Ultrarromantismo
Com o advento do Romantismo
verifica-se uma valorização da produção literária como expressão individual, a
poesia se personaliza, e a lírica adquire então um prestígio sem igual. Uma das
definições mais usuais para o poeta romântico e que ultrapassou o século XIX é
a do gênio incompreendido. O romântico, sentindo-se deslocado no
mundo por se tratar de um iluminado, um vate, próximo da divindade,
apresenta-se como portador de capacidade imaginativa superior a dos homens
comuns, o que, acredita, possibilita a ele falar com Deus e com a Natureza, servindo-lhes
como porta-voz ao mundo concreto. Abaixo uma simples ilustração da medida dessa
sensibilidade egocêntrica do gênio romântico, desse "EU" absoluto.
vate va.te sm (lat
vate) 1 Aquele que fez vaticínios; profeta. 2 Poeta
ao qual eram atribuídos dons proféticos, especialmente na Roma antiga. 3 Poeta. sf Profetisa.
"EU" > Mundo
Benedito Nunes dá a medida dessa
imposição espiritualista do gênio romântico sobre o caráter vulgar da
humanidade e sua consequente distância do real:
"É que, altivo, incompreendido e distante, o
poeta romântico impõe-se, intimado pela inspiração que o visita, a tarefa
universal de legislador do reino dos fins espirituais intangíveis, onde, imune
à lei da causalidade e às mutáveis circunstâncias do mundo exterior, ocupa
(...) um lugar firme e elevado em relação à humanidade". (NUNES, Benedito. A
visão romântica.1978, p.62).
Acreditando possuir uma
sensibilidade superior frente a uma sociedade em mutação, a qual se via
impelida por uma necessidade de mecanização racionalista como pressuposto de
uma crescente industrialização, o poeta – ser marginalizado por sua
improdutividade material ou econômica – frequentemente está em luta para
conquistar a glória almejada. Maldizendo o mundo por sua insensibilidade
artística, à medida que é, por outro lado, mal-visto pela aparente indolência e
precariedade material, o poeta não escapa da relação de conflito entre a sua
subjetividade e o real, tensão esta que parecerá interminável, visto que os
conflitantes parâmetros de valores sociais e morais estão em pólos opostos e
parecem irredutíveis.
"EU" X Mundo
Surge
daí um sentimento melancólico, descrente, desesperado, uma insatisfação
permanente que foi batizada como spleen, mais comumente
caracterizada como Mal do século.
O que resta ao poeta se no mundo
físico e concreto não alcança o reconhecimento, a felicidade e a glória? Resta,
então, somente o culto idealista e utópico do sonho, do invisível, do
inacessível, do misterioso, do longínquo, do infinito... é nesta busca que a Morte surge
como o caminho mais curto para alcançar esta transcendência.
A morte passa a ser a única solução definitiva para os problemas do homem.
Na morte seria encontrado o alívio que representa a salvação em outra vida,
onde os desejos irrealizados seriam possíveis.
O termo spleen, do francês, representa o estado de tristeza
pensativa ou melancolia associado
ao poeta Charles Baudelaire. O spleen baudelairiano é um profundo
sentimento de desânimo, isolamento, angústia e tédio existencial, que
Baudelaire exprime em vários dos seus poemas reunidos em Les Fleurs du
mal. Embora o termo
tenha sido muito difundido pelo poeta francês durante o decadentismo, já fora utilizado anteriormente, em particular
na literatura do Romantismo.
O evasionismo (fuga), a oposição ao mundo, mantém-se em sua
poética seja pelo culto da morte ou do sonho, seja pela agressão irônica à
realidade presente. Nos poemas em que o “eu” lírico se apresenta como terno e
recatado, há uma entrega aos seus sonhos de amor e obsessão pela morte, onde
ela surge como possibilidade de solução para o tédio de viver; além da mulher
amada como virgem apenas sonhada e por isso esperada também após a morte.
Para pesquisar:
Ultrarromantismo http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/ultraromantismo.htm
Byronismo e mal do século http://www.filologia.org.br/soletras/8/11.htm
Fagundes Varela http://br.oocities.com/edterranova/fagundespoe.htm
Álvares de Azevedo http://alvares-deazevedo.blogspot.com/
Depois de ler os textos sugeridos e analisar as imagens,
reflita sobre os seguintes aspectos:
a) Como encaramos as desilusões da Vida?
b) O que esperamos da Morte?
c) Já sentimos o desejo de morrer? Por qual motivo?
d) É possível perceber esse spleen nas
manifestações culturais contemporâneas? Quais e como?
Comentários
Postar um comentário